9/17/2008

Bravo, Brasil 4

texto lido pelo poeta Gonçalves Viana na apresentação de "As Noites Contadas", no Bar Depois, em Sorocaba, dia 31 de Agosto

Vitor Vicente, um jovem poeta lisboeta – assim como Cabral fez um dia – atravessou o Atlântico e aportou em nossas terras, trazendo-nos sua poesia. Poesia de um modernismo atualíssimo e instigante.

Em seu novo livro, que está sendo lançado aqui entre nós pela editora O Clássico; Vitor, tal qual um Ulisses hodierno, realiza sua Odisséia (do eterno retorno ao lar), em uma noitada onde peregrina por vários países (bares) e atraca em portos seguros (balcões), refúgio daqueles que buscam incessantemente as lembranças atávicas de quem quer fugir da solidão apavorante que soe acontecer tão somente aos que têm a poesia entranhada na alma.

Vitor, não apenas bebe, metaforicamente, nos muitos bares por onde andou em seus poemas, como demonstra, através dos mesmos, ter bebido (literalmente) na fonte de poetas outros, tais como: William Blake, Rimbaud, Baudelaire, Burroughs, Lautréamont, etc...

No Brasil, a poética de Vitor Vicente, talvez encontre um paralelo no enfoque com a obra de alguns poetas brasileiros pertencentes a uma corrente surgida nos anos 70, denominada Poesia Marginal. Que era assim chamada porque, num primeiro momento, podia ser lida em diversos lugares: nos muros, nos postes, nas paredes e portas de banheiros públicos. Eram feitas artesanalmente em mimeógrafos e distribuídas ou vendidas; em bares, cinemas, teatros, praias; revistas alternativas; páginas de jornal ou qualquer lugar que permitisse aos poetas expressar a descontração, a subjetividade, o protesto e as suas propostas. Era, sobretudo, uma poesia que se encontrava fora do circuito editorial. Seus principais expoentes eram, entre outros: Ana Cristina César, Cacaso, Chacal, Paulo Leminski, Torquato Neto, Roberto Piva, Wally Salomão, Capinam, Francisco Alvim, Vera Pedrosa, etc. E atualmente: Valdo Motta, Delmo Montenegro, Arnaldo Antunes, Córdoba Jr. e Evandro Mezadri.

Então, Vitor é um poeta maldito ou marginal ou marginalizado? Não, ele é apenas e tão somente, como todos os demais poetas contemporâneos o são. Pois a poesia em si, é hoje: marginal!

Mas voltando a peregrinação do poeta, de bar em bar, dissipando-se entre as brumas etílicas que envolvem seus poemas, devemos, onde o vemos embriagado, vê-lo lúcido.

E devemos ainda nos lembrar que, quando levarem os copos e as garrafas, restará apenas a solidão, nessa verdadeira terra de ninguém – e de todos – que é o balcão de um bar.

Beber ou não beber, eis a questão?

E Vitor, o vate libertinerante, canta ou dança um tango (ou seria fado?) em Portugal, e vem para dançar um samba aqui no Depois Bar em Sorocaba - SP, Brasil.

Seja bem-vindo, Vitor.

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