7/12/2009

Novos Cantos da Casa III

Não vê que o filho-da-puta do vendedor de porcarias resolveu se sentar ao meu lado? Ele fixou os olhos em mim com a maior cara de tacho, subitamente tomou a decisão, caminhou com seus passos vagarosos, deu um aceno ridículo e soltou largamente o peso do corpo na poltrona ao lado.
Era só o que me faltava acontecer! A fim de que o muambeiro logo percebesse que eu não queria conversar, sequer retribuí ao aceno. Virei o rosto em sinal de descontentamento e altivez e tentei me distrair com o que se via através dos vidros.
Por sorte o sujeito permaneceu em silêncio. Estendeu um pano sobre o colo e usou-o de amparo à porção de miudezas que a obrigação e necessidade de mostrar indiferença me impediram de identificar. Então começou a torcer arames com um alicate bastante esquisito, dando formas a bijuterias de extremo mal-gosto.
Pela primeira vez naquela viagem eu tinha algum motivo para agradecer. Foi sorte o indivíduo se ocupar com suas infantilidades e manter o silêncio, pois o que se via através da vidraça, não ateria a atenção nem mesmo do mais absorto dentre os seres vivos.
A “paisagem” era constituída por montanhas e mais montanhas. Umas altas e feias; outras, baixas, mas igualmente feias. Entre elas situavam-se campos e lagos que não exibiam nenhuma beleza e uma infinidade de campos de plantações de milho e café – que se vê em qualquer canto do mundo.
O panorama era tão absorvente quanto aço.


Daniel Ricardo Barbosa in Os Nomes na Máquina

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