4/02/2009

Cinzeiro Citado



O Meu Cinzeiro Azul, do Henrique Manuel Bento Fialho, ainda fumega...

A origem deste livro é o Blog antologiadoesquecimento de Henrique Fialho (n. Rio Maior, 1974) e a sua primeira frase em 5-9-2005: «O meu cinzeiro azul está repleto de cinza». O ponto de partida destas reflexões é o tempo actual: «Para o bem e para o mal a religião chama-se hoje economia, a santidade metamorfoseou-se em fama, Deus dá pelo nome de dinheiro. No meio disto tudo, a liberdade, estro da indignação, é sonho, é utopia, é poesia». Neste mundo a poesia tem um lugar: «A poesia mora num lugar muito para lá da palavra, independente das costuras da linguagem. Ela é miopia reveladora». Mas além do lugar tem uma função: «Como entender a função da poesia num mundo que sobrevive à custa de uma constante simplificação das perspectivas que lhe dão forma?». Também a poesia tem uma vitalidade própria: «A poesia é útil como um garfo, um martelo ou uma esferográfica. Mais útil porque está mais presente na minha vida do que qualquer destes utensílios». Esta perspectiva conduz a uma compreensão de toda a poesia: «ver num poema uma representação do universo». Entre o mundo e a poesia, surge o amor: «Quem ama ou odeia nunca está só. Pode amar-se em dor, nunca em solidão. Havendo memória não há morte. Havendo memória há presença. Mas o amor é uma palavra demasiado grande. Tão grande que não cabe num poema». Fica a ideia final: «A poesia, a ser alguma coisa, que seja esse lugar de reencontro do homem consigo mesmo, do homem com a sua condição, lugar de encontro com uma verdade não mais triste porque inútil, nem mais alegre porque pateta, do que a própria vida: um passar por cá, entre a lágrima e o sorriso, entre a dor e o prazer, entre o gelo e a chama, entre a terra e o céu, entre os outros que são aqueles entre os quais também nós nos encontramos».

Cinzas encontradas na AspirinaB, fumegadas pelo José do Carmo Francisco

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