10/25/2007

O Meu Cinzeiro Azul III

Duvido que a grande maioria dos livros de poemas que se editam hoje em dia no nosso país tenha como base sustentável da sua edição a qualidade dos poemas. A edição de poemas em Portugal parece considerar apenas dois aspectos fundamentais: a) as ligações afectivas entre o autor e o editor; b) o estatuto social do autor. Acho muito difícil que um completo anónimo (de feitio, currículo e cátedra) logre ver editados os seus textos, por muita que seja a sua qualidade, pelo menos tão facilmente quanto algumas figuras da nossa praça mostram conseguir. Para uns, há todo um calvário a percorrer antes do mais ínfimo reconhecimento; para outros, bastará um telefonema. Talvez sempre assim tenha acontecido… pelo menos desde que o telefone foi inventado. Grandes “poetas de hoje” lamentaram, no seu “tempo de ontem”, tendências similares. Chamemos-lhe tendências, para não azedar demasiado o tom. Não desejo pôr em causa a qualidade do que se edita hoje em dia, muito menos a seriedade das pessoas que estão por detrás dos mais variados projectos editoriais. Antes pelo contrário. Sou dos que julgam haver uma certa relação entre qualidade e quantidade: quanto maior for a quantidade de títulos editados, maior será a probabilidade de encontrarmos no meio da mixórdia rasgos de autêntica genialidade. Sou um adepto absoluto da incontinência editorial, ao mesmo tempo que não alinho num discurso negativista e depreciativo que não reconhece à poesia portuguesa actual a mesma qualidade da poesia de outros tempos.

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