11/07/2005

Esses Dias Continuados VII

Eu, hiper hipocondríaco, que me caguei de medo quando um pombo me cagou em cima e não consegui comer sopa nem ter descanso enquanto não verifiquei se a ave defecadora tinha feições dos países engripados, eu mesmo acabo de ser citado precisamente no jornal «Médico de Família»!

Quem me quis tratar da saúde, com este gesto, foi a Paula Fráguas; minha médica de família no papel, psiquiatra e confessora dos meus pecados de gula e luxúria no consultório.

Seguem, respectivamente, o excerto do meu livro e o texto da Dra (este no post seguinte).

«A capital cultural fez as malas, atravessou o Atlântico e alojou-se na América. É um dos sintomas de um dos males mais nefastos da actulidade: a globalização. Este fenómeno é como que um vírus que não afecta somente somente o orgão em que se instala mas o resto do corpo: para além da estandardização da cultura, também os modos de vida se uniformizam e se esteriliza a fecundação do novo. A proliferação dos restaurante de fast-food (que possibilitam ao proletário dar-se ao luxo de se alimentar rapidamente e rapidamente regressar ao emprego), o aglomerado de minúsculas salas de cinema e pipoquices afins, o acesso por uma ninharia a uma data de canais de televisão estupidificadores são tudo exemplos da americanização do mundo. E mesmo a vulgarização do anti-americanismo está nas mãos dos americanos, pois traduz-se em resultados nulos.
A ideia feita e corrente de que o marxismo falhou, caducou e não tem qualquer horizonte de aplicação no século XXI é, meus amigos, uma jogada pérfida da democracia musculada. Enquanto a ditadura fascista, através da acção da censura, confiscava e proibia o material marxista e subversivos afins, hoje em dia vedam-no e fazem-no passar por passar por arqueologia literária, cujo interesse se restringe aos historiadores das ideias. Deste modo se formam esquerdistas que primam pela estupidez e o poder vai-se exercendo ora por neo-liberais, ora por centralistas de políticas económicas de direita.
O que é grave no advento do capitalismo não se esgota nos antagonismos sociofinanceiros. Esse anagonismo, que outros orgãos do sistema - como a televisão que dá às pessoas a hipótese irreal de terem protagonismo e importância com cidadãos - se encarregam de disfarçar, expressa também que não é permitido a todos uma formação intelectual que os dignifique enquanto pessoas. A alienação de que Marx tanto, tanto fala, é a total impossibilidade que o proletariado tem de se reunir com o seu self mais íntimo e com os seus próximos. Estes ajuntamentos são como que mortos à nascença.
Percebem agora porque muito boa gente chega a casa, estende-se no sofá e adormece de TV ligada? Têm dúvidas?!»

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