Festim BestialEm cima, no letreiro, estava escrito «A Festa do Asno seguida de Gag Gad». De dentro espreitava um pénis, endemoninhado e escalavrado, que se estendia ao comprido como uma passadeira vermelha.
De todos os lados, como numa romaria religiosa, chegavam seres emproados por participarem em tão nobre e solene evento.
E, ainda emproados, entravam.
Reunidos os convivas, o Asno despojou-os das coroas e das cristas. E distribui-lhes um par de orelhas de burro. Depois, oh depois, a piça do Asno ficou possessa e lá vai disto: de açoite e de canzana, de bastonada e de sodomia, no menino e na menina. Respectivamente? Respectivamente o tanas! Indiscriminadamente, isso sim. (Vulgo português: pau para toda a obra.)
Nisto as orelhas de burro dos convivas cresceram e subiram à altura da testa. E transformaram-se em cornos.
Até que dum só coice, o Asno, com o à-vontade e a desenvoltura de quem não é gago, expulsou os convivas festa fora.
Era ver os que chegaram em duas patas saírem em quatro; e os que em quatro patas haviam chegado abandonarem o evento com o dorso e o queixo rente à lama e à merda, a rastejar.
Enquanto o mestre de cerimónias, o nosso Asno, gritava a plenos pulmões:
- Putas, adeus ! Poetas, adeus ! Putas disfarçadas de Poetas, adeus ! Não levam o meu voto !
Vitor Vicente
Etiquetas: A Festa do Asno, Canto ao Vivo, Canto Comentado, Gag Gad, José Emílio-Nelson, Vitor Vicente