11/19/2005

«Gag Gad», José Emílio-Nelson

Filhos de Gad, God,
Se entrarem pela sacristia, traseira, dianteira,
Aconselho-os, lavem as mãos ou usem luvas
Se vão a seguir entrar pelo portal.
Pela portada que tem as bordas que se entrelaçam
Em saliências com graça quando não
Gastas por tantas peregrinações. Imitatio Christi.
(Crentes, não se duvida,
Mas nada sabem de higiene e
Endrominam tudo como coisas do caralho.)

José Emílio-Nelson in Gag Gad

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11/12/2005

«A Festa do Asno», José Emílio-Nelson

Aos Do Café

Eu distribuo o convite
Pelo outro com quem falo (solitário)
E com isso vocês gozam.

Verdade, verdadinha, só às vezes,
Mas DUQUE FALO nunca falta,
Bobo de guizos grisalhos.

E se eu não vos apareço
Digo-vos com todo o apreço:
Ele, sozinho, faz tudo,
Morra eu descansadinho.
Mais do que as calças manchar.
Penso para os botões, tu P.,
Irás depois cagar, tu A., irás fungar
Com a garganta entupida.
E não me estou a gabar.
Ele, sozinho faz tudo,
Diz-me o falo, DUQUE FALO.

José Emílio-Nelson in A Festa do Asno

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11/09/2005

«Gag Gad», José Emílio-Nelson

Vestem-se ridículos nas corridas de fiacre, ajaezados,
De boné repuxado no encalço, aferrando
A malvadeza, as escarradelas derribaram-no,
Aos zurros, a chafurdar nas lamas dos que apostam,
A sacudir o membro viril tão escancarado dentre as patas.
(Em voz baixa, gant de crin,
Que bem serve para açoitar as nádegas deles.)

José Emílio-Nelson in Gag Gad

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11/07/2005

Esses Dias Continuados VIII

Leves amenidades de peso e a banca muito rota, Paula Fráguas (conto escrito a partir de excertos do meu livro «Esses Dias - HenryKiller.Blog)

«Lá estava a ave canora, portadora de macia e luzidia penugem superficial amarelo cor de gema de ovo, que cobria uma mais fofa camada de alvas penas, assim a modos que a lembrar claras batidas em etéreos castelos bem no ar e com açúcar.O sensual bicho, de bico castanho e uns olhinhos redondinhos, da mesma cor, de brilho apelativo a emanar tonturas de atracção fatal, repousava junto aos seus semelhantes, em falsa passividade de dandy muito atraente. E, então, os trinados começaram a oscilar entre o coração da sereia e a canção do bandido, com frequências só audíveis para alguns. Ela hesitava...
Olhou em redor. Procurou distrair-se com as cores modernas das instituições bancárias.
Pensou, meio à toa, que tanta instituição deveria servir, decerto, as enormes movimentações económicas resultantes de uma das mais significativas produções nacionais (a produção de bicas). Procurou, instintivamente, mudar de assunto, pois estava a regressar ao malfadado animal cantante.
No vidro espelhado duma vitrina de pronto-a-vestir, as griffes sussurravam enormidades.
Uma pequena Alice espreitava, destacando a curiosa cabeça da sua imagem enviada pelo espelhado da vitrina, uma Alice não muito nova nem muito amiga, uma Alice, segundo alguns autores, sentida do lado de cá do espelho. Na verdade, o tempo em que a imagem desenvolvida era a batuta da sinfonia entre a satisfação de se sentir amada e gostar de si já passara e o salto qualitativo, que permitiria a triufante reeentrada no líquido traiçoeiro do espelho, estava por dar...
As griffes, de sorriso escarninho, reluziam...
O dia morria devagar...O sol, bem de produção ainda não descolectivizado, retirava-se para merecido descanso, após ter assistido durante, durante mais um dia, a tanto crime ecológico a bem do lucro desenfreado...
Ela hesitava...
Ainda tinha que regressar ao emprego para trabalhar até à noite, em horas extraordinárias não remuneradas...Devia ingerir uma refeição não muito rica em calorias...E de preferência de absorção não muito rápida...No dia seguinte, mais uma sessão de atendimento a funcionários da empresa que iriam ser obrigados a rescindir contrato de trabalho, mediante indemnização.
Ainda teria naquela noite que estudar o perfil psicológico dos que atenderia na manhã seguinte, com vista a obter o acordo com os mínimos gastos para a empresa.
Um vazio no meio do peito começava a instalar-se...Mau. Assim não ia lá.



Desesperada, começou a sentir na boca a macieza do bicho a desfazer-se em suavidades maiores...
Lembrou-se da sua hipertensão, da anomalia da glicemia em jejum, como apelidara a médica de família aquela sua possibilidade de futuro problema maior...
Então e os antidepressivos, por que razão não estaria a surtir efeito?...Calma...Uma noite bem domrida e tudo se recomporia. No dia seguinte...
O animal estava a ter muita saída. Repousando sobre uma espécie de pastel de nata e daí fazendo os seus jogos de sedução tão perversos quanto deliciosos.
No dia seguinte mais uma dose de funcionários com cerca de cinquenta e dois anos, novos demais para reforma pela Segurança Social e velhos demais para encontrar novo emprego, com um desespero esverdeado nso olhos, enquanto ela lhes respondia: Então, olhe...pegue no dinheiro da indemnização e invista...Em quê? Sei lá...Numa pastelaria...Toda a gente bebe bicas. Num pronto-a-vestir...
Sem se dar conta, veio-lhe à lembrança uma notícia lida na imprensa sobre os EUA, cujos funcionários viram os seus empregos fugirem para a Alemanha, apesar dos operários desse país ganharem mais do que os dos States. Era verdade, segundo da notícia veiculada pela revista Visão, a Whirpool quis passar a vender nos EUA máquinas de lavar com porta frontal. E como já tinha essa tecnologia aperfeiçoada na sua fábrica de Alemanha entendeu que exportar a partir dali era a forma mais rápida de entrar no seu próprio país. Trata-se duma nova globalização, em que as multinacionais rentabilizaram as suas filiais em todo o mundo consoante as necessidades:nalguns casos para países em vias de desenvolvimento, noutros para locais com design de alta qualidade. Por isso, maid e 40% dos artigos importados pelos EUA são-lhe vendidos, não por outros países, mas por filiais duas suas próprias empresas no estrangeiro. E o deficit do país não para de crescer. Já estava com a cabeça a andar à roda só de pensar no poder financeiro, no poder económico e já nem queria pensar nos impostos, fraude fiscal, economia paralela, fuga de capitais e em........Despesa pública....
Entrou na pastelaria, pediu com ar desatinado: um passarinho! E lançou-se nos braços da ave, atacando-a com o canibalismo de quem devora e incorpora o seio materno.Ai...O obeso peso da culpa...
Nessa noite estav tão cansada que adormeceu no sofá com a televisão ligada. Como já era muito tarde e quase toda a audiência estaria a dormir, a Tv passava uma canção muito antiga dos Donovan:
Todos os ventos riem, eles riem
com todo o seu poder;
Riem e riem ao longo de todo o dia;
E em metade das noites de Verão;
Num vagão, conduzido para o mercado;
Vai uim vitelo com olhos de
carneiro mal morto;
Lá no alto, acima dele vai uma
andorinha;
Voando através do céu;
Pára de te queixar, disse o agrário;
Quem te mandou ser um vitelo;
Por que é que não tens asas como;
A andorinha tão orgulhosa e livre;
Os vitelos são facilmente conduzidos
e mortos;
Sem nunca saberem a razão por que;
Mas quem tem a liberdade como tesouro;
Como uma andorinha aprendeu a voar;
Todos os ventos riem, eles reim com
todo o seu poder».

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Esses Dias Continuados VII

Eu, hiper hipocondríaco, que me caguei de medo quando um pombo me cagou em cima e não consegui comer sopa nem ter descanso enquanto não verifiquei se a ave defecadora tinha feições dos países engripados, eu mesmo acabo de ser citado precisamente no jornal «Médico de Família»!

Quem me quis tratar da saúde, com este gesto, foi a Paula Fráguas; minha médica de família no papel, psiquiatra e confessora dos meus pecados de gula e luxúria no consultório.

Seguem, respectivamente, o excerto do meu livro e o texto da Dra (este no post seguinte).

«A capital cultural fez as malas, atravessou o Atlântico e alojou-se na América. É um dos sintomas de um dos males mais nefastos da actulidade: a globalização. Este fenómeno é como que um vírus que não afecta somente somente o orgão em que se instala mas o resto do corpo: para além da estandardização da cultura, também os modos de vida se uniformizam e se esteriliza a fecundação do novo. A proliferação dos restaurante de fast-food (que possibilitam ao proletário dar-se ao luxo de se alimentar rapidamente e rapidamente regressar ao emprego), o aglomerado de minúsculas salas de cinema e pipoquices afins, o acesso por uma ninharia a uma data de canais de televisão estupidificadores são tudo exemplos da americanização do mundo. E mesmo a vulgarização do anti-americanismo está nas mãos dos americanos, pois traduz-se em resultados nulos.
A ideia feita e corrente de que o marxismo falhou, caducou e não tem qualquer horizonte de aplicação no século XXI é, meus amigos, uma jogada pérfida da democracia musculada. Enquanto a ditadura fascista, através da acção da censura, confiscava e proibia o material marxista e subversivos afins, hoje em dia vedam-no e fazem-no passar por passar por arqueologia literária, cujo interesse se restringe aos historiadores das ideias. Deste modo se formam esquerdistas que primam pela estupidez e o poder vai-se exercendo ora por neo-liberais, ora por centralistas de políticas económicas de direita.
O que é grave no advento do capitalismo não se esgota nos antagonismos sociofinanceiros. Esse anagonismo, que outros orgãos do sistema - como a televisão que dá às pessoas a hipótese irreal de terem protagonismo e importância com cidadãos - se encarregam de disfarçar, expressa também que não é permitido a todos uma formação intelectual que os dignifique enquanto pessoas. A alienação de que Marx tanto, tanto fala, é a total impossibilidade que o proletariado tem de se reunir com o seu self mais íntimo e com os seus próximos. Estes ajuntamentos são como que mortos à nascença.
Percebem agora porque muito boa gente chega a casa, estende-se no sofá e adormece de TV ligada? Têm dúvidas?!»

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«A Festa do Asno», José Emílio-Nelson

Cão cansão
A escavar no canteiro, Cordero.
Nem perdido nem achado.
Somente por higiene, o ejaculador do bando.
Que não há pensões para canídeos.
E não há sacristão a entesourar sem cão a adubar.
(Daí, sem dúvida, a tal vocação uivante.
Jaculatória que se lhe reconhece.)

José Emílio-Nelson in A Festa do Asno

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11/05/2005

Publicações Canto Escuro



E como um asno nunca vem só...



À venda numa livraria perto de ti, após o verão do São Martinho! Até lá, postarei alguns poemas destes livros.

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Distribuições Canto Escuro

Na Utopia e na Unicepe também já cantam as publicações do Canto Escuro. Pelo (meu) andar da carruagem, qualquer dia tenho os livros à venda em mais livrarias portuenses do que em lisboetas.

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